16 de dezembro de 2012

Daniel Matador: Xadrez, roleta e pôquer

Caros

Final de um ano e início de outro. Não há pior época para o esporte bretão do que esta. Pelo singelo motivo de que ele não ocorre (pelo menos profissionalmente). Como diz o ditado, “mente vazia, oficina do diabo”. No caso, já que não há futebol, abre-se o espaço para o esporte preferido de alguns setores da imprensa esportiva: a especulação. Ou, no caso da imensa maioria, do chutômetro mesmo. A profusão de “informações privilegiadas” abunda nesta época.

E aí também afloram os milhões de jornalistas esportivos especializados. Afinal, todo torcedor não é apenas um técnico, mas também um mestre em contratação de jogadores e um olheiro em potencial. E praticamente todos têm uma tática infalível para garimpar craques da bola e indicar para seu clube do coração. O próximo Messi com certeza joga no Guarani de Alegrete, basta o clube botar um olheiro lá para descobrir o cara, contratar por uma ninharia, botar ele pra jogar e arrebentar no time, erguer várias taças e então vendê-lo por trocentos zilhões para a Europa. E partir para descobrir outro. Barbadinha. Não sei como os dirigentes ainda não perceberam este pulo do gato.

Caso alguém ainda não saiba, o futebol não é um esporte. O futebol é um jogo. Sim, pois em um esporte, com honrosas exceções que confirmam a regra, o melhor sempre vence. O corredor que correr mais rápido vai sobrepujar os demais. O saltador que saltar mais alto vencerá os outros. O halterofilista que erguer o maior peso será o campeão. Ou, como diziam os gregos, citius, altius, fortius. No futebol não funciona assim. Não basta jogar melhor. Mesmo o melhor time não consegue ser campeão todos os anos ou ter uma sequencia grande de vitórias, invariavelmente. No futebol, o pior pode vencer, e nem sempre é uma exceção.

Se formos comparar o futebol com os jogos citados no título deste post, não há dúvida alguma sobre aquele com o qual ele mais se identifica. O futebol não é xadrez. No xadrez, o melhor enxadrista vence o pior. E vence utilizando suas capacidades. Não depende da sorte, ou depende em um percentual ínfimo. O futebol também não é roleta. Na roleta, o jogador sequer pode lançar a bolinha. É o contrário do xadrez. Quase sorte pura. O futebol é pôquer. No pôquer, não basta saber jogar. Também não basta ter sorte. Há que ter uma combinação de ambos para vencer.

O Tricolor apresentou esta semana os primeiros reforços para a temporada do ano que vem. Mal chegaram e já há os mais diversos sentimentos. Desde o “não joga nada”, passando pelo “é projeto de craque” até o “é uma aposta”. Não nos enganemos. No futebol, todo jogador é uma aposta, desde o garoto desconhecido do interior até o medalhão consagrado que veio da Europa. Não há garantia de sucesso em praticamente nenhum caso. Quer dizer que dependemos somente da sorte, então? Calma, claro que não. O futebol é pôquer. Os atletas são as cartas.

O inesquecível Grêmio de 1995 foi montado com futebolistas renegados em seus clubes de origem, com promessas da base e com apostas de risco. E teve uma sorte desgraçada, pois a junção de tudo isso acabou dando muito certo. O que pode até desmistificar o mote de que é praticamente obrigatório manter uma base sólida para o ano seguinte. Do Grêmio campeão da Copa do Brasil em 1994 apenas 4 pratas da casa, quase juniores, foram mantidos no time base do ano seguinte: Danrlei, Roger, Emerson e Carlos Miguel. Todo o restante do time foi mudado, inclusive vários reservas. Naturalmente que a manutenção da comissão técnica foi importante.

Qual o significado desta mensagem? Não vamos nos apavorar por antecipação. Lembram quando craques consagrados como Amoroso e Astrada vieram jogar no Imortal? É, eu também não quero nem lembrar mais. E quando desconhecidos como Nildo ou desprezados como Jardel aqui fardaram? É, eu sei. Inesquecível.

Assim como no pôquer, obviamente não dá para contar somente com a sorte. Há que tentar buscar as cartas no momento certo, tentar alguns blefes para despistar e saber quando arriscar uma jogada mais ousada. Com a conjunção destes fatores e uma boa dose de sorte, não há dúvida de que a coisa pode dar certo. No Grêmio, o jogador principal sabe jogar este jogo e já foi campeão várias vezes. E na maioria das vezes não tinha as melhores cartas na mão.

Vai que agora ele tem um ás na manga e o jogo muda a nosso favor?

Saudações Imortais