Caros
Alguém aí já jogou ou curte jogar xadrez? Pois este é um passatempo que desde criança cultivei. Estudei em um colégio onde havia xadrez na biblioteca. Bastava chegar e pedir para a bibliotecária o tabuleiro e as peças, sentar à mesa e iniciar o jogo. Que legal seria se todas as escolas fizessem isso. Pois neste colégio o pessoal costumava fazer alguns mini-torneios de xadrez antes das aulas ou nos intervalos. E havia um aluno estilo maloqueiro, cabelo comprido, barba por fazer, todo maltrapilho e que fumava como um condenado, o qual de vez em quando aparecia para jogar. Vi alguns jogos dele contra os outros alunos e invariavelmente ocorria o seguinte: ele perdia a primeira disputa e ganhava as seguintes. Até que um dia fomos disputar um contra o outro. Fiz minha tradicional jogada do Roque-e-Encastelamento (quem conhece xadrez talvez saiba o que é) e ganhei a primeira partida dele com certa facilidade. Não me contive o perguntei o motivo de ter ganho dele tão facilmente e, principalmente, porque ele costumava perder a primeira partida que disputava contra um adversário novo. Então ele me disse, como quem revela um segredo: “Não me preocupo em perder a primeira partida. Para mim, ela só serve para conhecer como o outro joga”. O cara era mesmo muito bom.
Teremos nesta quarta-feira um prenúncio do que poderá nos aguardar na semana que vem na Arena. O confronto com o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro, por razões óbvias, não possui 10% da carga dramática que a partida a ser disputada pela Copa do Brasil. Pelo único motivo de que esta última é decisiva. Significará o fim do torneio para uma das duas equipes envolvidas. Diferentemente do modorrento campeonato por pontos corridos. E fica aí a grande questão: como jogar uma partida nem tão decisiva assim, porém importante (afinal, pode significar a retomada da vice-liderança e a continuidade da corrida no encalço do primeiro lugar) sem fornecer ao adversário subsídios do que ele poderá encontrar na próxima e mortal contenda? Como posicionar o time em campo de forma a vencer, de preferência não convencendo muito, para não dar armas ao inimigo que será enfrentado logo em seguida novamente? Será possível fazer isso e ainda manter o ânimo da torcida exaltado o suficiente para lotar a Arena na semana seguinte? Dúvidas das quais teremos respostas apenas ao final da noite desta quarta-feira.
Vocês sabiam que quase todo clube de futebol que se localiza em uma cidade cuja economia é puxada pela indústria carbonífera decide por ter o negro e o amarelo em suas cores? Pois é, isso ocorre desde Dortmund, na Alemanha, até Criciúma, aqui na bela Santa Catarina. E ocorre porque nos primórdios da revolução industrial, antes da explosão da indústria petrolífera, o carvão é que era considerado o “ouro negro”. Daí ter sua cor negra associada sempre com o amarelo-ouro nestas situações. Tanto é que os clubes que possuem estas duas cores como principais são conhecidos como auri-negros, sendo o auri o prefixo derivado do Latim que designa as palavras associadas com o ouro. Se olharmos a famigerada tabela periódica dos elementos, o ouro é identificado pelas letras Au, por serem estas as duas primeiras letras de aureum, a palavra latina para este metal. Só que, além de serem conhecidos como auri-negros, estes clubes e seus torcedores normalmente costumam ser conhecidos por outra alcunha: carboneros. A explicação é lógica: são os clubes que vêm da terra do carvão, ou constituídos em sua origem pelos trabalhadores que atuam nesta atividade.
A primeira vez que um clube carbonero esteve em Porto Alegre para disputar uma final de torneio internacional, naturalmente, foi nos domínios do Grêmio. No grande ano de 1983 o tricolor mostrava quem mandava na América e seria durante décadas o senhor absoluto deste torneio na Província de São Pedro. O fantástico time do Peñarol, clube que possui em seu cartel três títulos de campeão mundial de futebol, mostrou-se um digno combatente, sucumbindo apenas para o grande campeão da América, cujo esquadrão tinha os lendários De León, Renato e César. Partiu então o tricolor para conquistar o mundo, batendo o campeão europeu daquele ano, o Hamburgo. O mesmo Hamburgo que foi o convidado do jogo inaugural da mais moderna arena de futebol das Américas. Questão de nível.
Há pouco mais de dois anos atrás, este mesmo time carbonero derrotado pelo Grêmio em 1983 retornou a Porto Alegre, porém para jogar em um local que estava em escombros. Não se importou com isso e eliminou o anfitrião descuidado. Acometido por uma variante da Síndrome de Estocolmo, este mesmo clube que recebeu o Peñarol e foi por ele eliminado em casa, resolve convidá-lo para a festa de “inauguração” das reformas de seu campo de jogo. Anunciam a chegada de um tricampeão do mundo (?), multicampeão do futebol mundial. Não será algum clube europeu, como haviam anunciado anteriormente (faltou grana?). Talvez tenham convidado os carboneros para tentar apagar a lembrança ruim que porventura tenha ficado da última vez. Algo do tipo “vocês vieram aqui em casa, nos socaram, mas fiquei com vergonha mesmo assim, porque a casa estava um caos; agora já deixei tudo arrumadinho, podem vir nos socar de novo...”.
Até gostaria de discorrer um pouco mais sobre este tema, mas está difícil digitar e gargalhar ao mesmo tempo.
Saudações Imortais
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