12 de março de 2014

Futebol não é missa do galo

Prólogo

  1. Racismo existe sim. No Brasil e no mundo todo.
  2. Existem gremistas racistas, assim como há racistas entre os colorados, flamenguistas, corinthianos, bahianos, milaneses, japoneses, ingleses, africanos, católicos, ateus, evangélicos, etc.
  3. Há negros racistas.
  4. O racismo foi incutido nos seres humanos por razões históricas, culturais, econômicas e políticas.
  5. Racismo é um sentimento abominável e todo o racista deve ser desprezado por manifestar este sentimento. E deve ser recomendado a procurar tratamento psicológico.
  6. Deve haver um movimento para eliminar o racismo, não dos estádios apenas, mas do dia à dia das pessoas e das nações.
  7. A relação do Grêmio com os negros e o racismo foi brilhantemente historiada pela gatinha da @gremistaloca ontem. Nada mais há a ser dito sobre isto.
  8. A origem da palavra macaco para referência ao cocô-irmão foi, não com menor brilho, exaustivamente descrita pelo Carlos Josias neste post aqui.
Isto assentado, esclareço que este post não é para discutir a existência ou não de racismo e o caráter odioso e asqueroso deste sentimento.
Entendido isto, vamos adiante.

O ser humano


Existem dois seres humanos, no mínimo, dentro de cada um de nós. Aquele educado, uns mais outros menos, para seguirem as convenções e leis sociais e aquele que aparece sob estados de pressão psicológica ou física.
Nós todos somos um quando sentados na nossa sala relaxando e outro bem diferente quando submetidos aos rigores do trabalho ou sob a arma de um assaltante, só para citar dois exemplos.
Exigir que em ambos os casos se tenha a mesma atitude civilizada e moral é estupidez e demonstra total desconhecimento da natureza humana.
Os rigores da vida, o desemprego, o medo de desemprego quando empregados, a falta de dinheiro, as doenças próprias ou de familiares, a escola do filho, o stress do trânsito, o medo de violência, tudo isto e muito mais nos leva a precisar de válvulas de escape para podermos continuar a vida.
E aí aparece o futebol, como uma delas.

As válvulas de escape


Os humanos menos preparados, seja por razões econômicas, de formação familiar, ou de estudo, muitas vezes resolvem seus problemas com a violência. Aliás, o Brasil seguramente é o país mais violento do mundo. Aqui nós temos mais de 80 mil assassinatos por ano. No Canadá, 80 (oitenta). Um fim de semana em São Paulo tem mais assassinados do que o ano todo no Canadá.
E o que se vê para mudar isto? Nada. Ou melhor, quer dizer pior: se vê políticos e organizações civis incentivando a baderna, a balbúrdia, o desrespeito às leis e a crescente onda de violência contra as instituições e as pessoas.
Alguém aí observa preocupação de governos e judiciários para coibir isto?

Os humanos um pouco mais educados, quando em conflito com os outros, muitas vezes partem para a agressão verbal, para a ofensa. E geralmente se arrependem depois. E qual a ofensa que usam? Normalmente vão buscar um atributo físico do oponente.
"Seu escafandrista de aquário".
"Seu pau de virar tripa".
"Sai para lá alemão de merda."
"Gringo polenteiro".
"Negão fudido."
Etc.
É bonito? Claro que não. Mas é humano.
São atos de racismo? Há dúvidas sérias.

O torcedor de futebol


O futebol é uma das válvulas de escape mais importante da sociedade brasileira. Sociedade esta, que todos sabemos, sofre de doença quase terminal. E eu estou sendo otimista.
Se conseguirem, vão uma vez ao estádio sem pensar em torcer. Apenas fiquem observando as pessoas ao seu redor. Eu já fiz isto muitas vezes.
Quando o time ganha, se tem a impressão de que se vive no céu.
Quando está perdendo, definir o estádio como uma selva é pouco. O torcedor fica irracional. O seu ídolo de ontem é o filho da puta de hoje. O craque de uma hora atrás é um corno que merece a morte. O "doutor" cordato e fino do dia a dia vira um feroz assassino em potencial.
Leiam o twitter durante os jogos. Se fosse levado à sério, 90 % dos twitteiros seriam processados por calúnia, injúria racial, difamação e incitação à violência.
E, óbvio, as reclamações não virão depois de feita uma análise ponderada do que é educado de dizer ou do que é politicamente correto.
O torcedor é um bárbaro.
O torcedor brasileiro é um bárbaro muito mais bárbaro do que um anglo-saxão. Por todas as razões que não cabe aqui citar.
Por isto, comparar cânticos e desaforos de torcidas à prática de racismo com o mesmo peso de atos racistas que ocorrem no dia a dia é ignorância ou má fé.
Comparar um cântico com as agressões covardes que o juiz Marcio Chagas, que o Tinga ou que o Arouca sofreram é tão absurdo quanto dizer que gremista (todo ele) é racista.
Dar corda a estas associações é ingenuidade ou falta de inteligência.

Por estas razões acima, torcedores gremistas que encamparam a rotulagem da torcida gremista como racista devem repensar a quem estão servindo.
Há um agravante nesta atitude. Ao colocar o Grêmio no centro do furacão, quem faz isto admite tacitamente que a instituição é culpada por atos racistas. Será que é? Por que?
Por que a instituição deve ser responsabilizada se o acesso aos estádios é público e entra todo mundo que paga ingresso? Qual a lógica por trás disto? Os clubes de futebol são responsáveis pela educação dos torcedores?
Se é assim, o fato de um cliente de um super-mercado cometer um ato de injúria racista nas dependências do super-mercado resultará no fechamento deste?
Se um expectador de um teatro levantar e gritar contra um ator negro o teatro será fechado?
Como se disse, tem muita coisa errada neste país. Que não se faça o futebol e seus clubes de Cristo

Os cânticos das torcidas


Embora apaixonado pelo Grêmio, eu sempre digo que futebol é lazer. O futebol não pode e não deve ser o centro da vida de ninguém.
Então, passado o jogo, se houve derrota devemos desligar a tecla frustração para que mulher, filho, vizinhos, colegas de trabalho não paguem pelo que não devem. E também para que evitemos uma úlcera ou mesmo algo pior.

Como futebol é lazer ele deve ser acompanhado de bom humor. E, para atender aqueles que acham que os cantos da Geral são agressivos, resolvi propor alguns novos cânticos para a torcida gremista. Concedo que outras os usem também. E nem vou cobrar royalties.
Vamos a eles:

É canja! É canja!
É canja de galinha.
Arrume outro time
Prá jogar com a nossa linha.
.....

Hurra! hurra! Hurra!
ra tim bum!
Grêmio! tcha tcha tcha!
Grêmio! tcha tcha tcha!
.....

O Grêmio é o maioral

Na disputa do nobre ideal
Para nós não há nada melhor
Que lutar pelo esporte mais leal.
.....

Olha a festa querido
Torcida é vibração
Inter que vai muito aos pés
Inter que vai muito aos pés
.....

Mais pimenta!
Mais pimenta!
O Newels não aguenta.