6 de abril de 2015

Avalanche Tricolor: a homenagem do futebol a Antônio Augusto, o Plantão Esportivo

Por Mílton Jung

São José 1 x 1 Grêmio
Campeonato Gaúcho – São Leopoldo(RS)

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Havia oito jogos sendo disputados simultaneamente e cada resultado poderia determinar o destino de um dos times do Campeonato Gaúcho, nesta última rodada da fase de classificação. Alguns já estavam garantidos, mas poderiam ficar mais acima na tabela, o que daria vantagem no mata-mata que se inicia esta semana. Outros ainda tinham chances de estar entre os oito classificados. E uns poucos lutavam desesperadamente para escapar da segunda divisão estadual. Na tela da televisão, enquanto assistia ao Grêmio cumprir tabela, pois como estava garantido na próxima etapa entrou em campo com time misto, a vinheta eletrônica surgia a todo instante sinalizando a marcação de gol nas demais partidas. Surgiram com frequência bem maior do que nas rodadas anteriores: 23 no total, 2,8 por jogo, acima da média da competição que é de apenas dois gols por partida. Os gols se sucediam, a vinheta piscava e a todo instante, vindo de algum lugar qualquer, uma voz parecia ressoar na memória:

“Tem gol!”
“Tem gol onde, Antônio Augusto?”

Era como se estivesse de volta aos meus tempos de guri, em Porto Alegre. Uma época em que o rádio reinava quase sozinho no futebol. À televisão era reservada apenas uma partida e mesmo assim tirávamos o som para acompanhar a transmissão eletrizante dos narradores do Rio Grande do Sul, uma escola que fez época na radiodifusão brasileira. Por motivos óbvios, cresci ouvindo a Rádio Guaíba, mas é importante lembrar que este hábito não era apenas meu e por familiaridade com a emissora, era de boa parte dos gaúchos. Vibrávamos com a precisão das descrições feitas de cada lance por vozes que aprendemos a admirar. Havia comentaristas capazes de analisar taticamente a disposição dos times e repórteres que não deixavam escapar qualquer cena dentro e fora de campo.

“Tem gol!”
“Tem gol onde, Antônio Augusto?”

Este rápido diálogo, que se repetia todas as vezes que algum gol havia sido marcado no planeta bola era uma espécie de marca registrada daquelas transmissões. O bordão era reproduzido por mim e por muitos da minha geração nas peladas de rua ou nas acirradas disputas de jogo de botão para tripudiar sobre o time adversário. Por trás da brincadeira, havia o reconhecimento a uma das figuras mais importantes do rádio esportivo brasileiro: Antônio Augusto dos Santos, o Plantão Esportivo. Era uma figura misteriosa para a maioria dos ouvintes. Não ia aos estádios, não aparecia em público e não se sabia para quem torcia (alguns de nós sabíamos). No entanto, era capaz de nos contar cada gol feito em qualquer parte do mundo segundos após a bola estufar a rede. Tive a oportunidade de vê-lo trabalhando sentando à mesa do estúdio da Guaíba, na rua Caldas Junior, centro de Porto Alegre. Em torno dele, uma quantidade enorme de aparelhos de rádio Transglobe, fabricados pela Philco brasileira, que permitiam a sintonia de emissoras à longa distância. Todos ficavam com o som relativamente baixo até que um grito de gol surgisse. Antônio Augusto, com a rapidez que o veículo exigia e a precisão que só os craques oferecem, logo identificava o autor do gol e seus dados:

“Tem gol!”
“Tem gol onde, Antônio Augusto?”

Nos lugares em que os aparelhos de rádio não alcançavam ou as emissoras não transmitiam, até onde lembro – e quem lembrar mais, por favor, me conte – ele montava uma complexa rede de informantes ou contava com precárias linhas telefônicas. Qualquer esforço era válido para nos manter bem informados. Com esse apuro, nos apresentou jogadores desconhecidos e equipes em ascensão, em um tempo no qual o acesso a internet era inimaginável. Nos ensinou muita mais: sem as tabelas eletrônicas da atualidade à disposição, colecionava gols, placares, resultados e a participação individual dos jogadores. Com seus arquivos implacáveis construiu a estatística do futebol mundial, pois seus dados iam muito além de Grêmio e Inter, os times da redondeza. Além de contar o gol, Antônio Augusto nos contava quantos gols o artilheiro já havia marcado, em quantos jogos esteve presente, o desempenho do nosso time na competição e na temporada, e mais uma série de informações complementares e significativas. Era capaz de manipular uma quantidade incrível de fichas e dados graças a sua organização e inteligência aplicadas na função que desempenhava. Ninguém foi capaz de fazer igual.

“Tem gol!”
“Tem gol onde, Antônio Augusto?”

Depois de admirá-lo no rádio e no estúdio, tive o privilégio de participar de jornadas nas quais Antônio Augusto foi plantão esportivo. Era um profissional correto e exigente. Com toda sua firmeza, porém, nunca deixou de me tratar com um carinho especial que, tenho certeza, tinha muito a ver com o respeito e companheirismo que mantinha com meu pai. Os dois sempre foram muito amigos. Foi meu pai quem me informou, por telefone, que Antônio Augusto morreu na madrugada deste domingo, aos 77 anos, vítima de um AVC. Imediatamente, liguei para um dos filhos dele, Antônio Augusto Mayer dos Santos, que conheci já advogado e especialista em direito eleitoral, em 2010. Desde aquela época, tenho o prazer de publicar alguns de seus textos neste blog. Antônio Augusto, o filho, mesmo diante do momento difícil para a família, fez questão de me contar, hoje, algo que me deixou ainda mais emocionado: disse que o pai dele era meu torcedor, pois vibrava quando me via na televisão logo que me transferi para São Paulo. Sei que ele torcia mesmo era pelo Grêmio, paixão declarada publicamente em 2007. Mas pelo que conheço da maneira sincera como ele sempre tratou os amigos do peito, guardarei esta história no coração, assim como guardo na memória aquela voz:

“Tem gol!”
“Tem gol onde, Antônio Augusto?”

À esposa e aos filhos nossa solidariedade. E o desejo de que, neste Domingo de Páscoa, os gols marcados acima da média, na rodada do Campeonato Gaúcho, e os outros tantos assinalados mundo a fora, sejam registrados nas estatísticas como uma homenagem do futebol a este grande nome do rádio esportivo brasileiro. Porque onde tem gol, sempre haverá a marca de Antônio Augusto.

Comentários (17)

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sem dúvida nenhuma ele, teu pai e muitos da Guaíba fizeram a tua e a minha alegria, no nosso imaginário e nos nos nossos sonhos de ser campeão... apesar de passar o GRÊMIO por uma fase tenebrosa quando do auge do sucesso deles... piá de berço pobre, meu sonho de consumo era ter um rádio potente que me permitisse acompanhar jogos em outros estados e poder ver estilos de narração, de reportagem e o próprio "plantão" por ele criado... quem me conhece sabe que eu saúdo muitos dos meus amigos com um "fala Antonio Augusto!"... perdemos todos nós com a partida prematura deste GREMISTÃO!

FORÇA GRÊMIO !!!!!
Que instituição meus amigos, que instituição meus amigo, é o Grêmio, parece uma cadela, explico.

Os torcedores do Inter cometeram o mesmo crime que o Grêmio e não vão nem mesmo chamar o jornalista que foi testemunha para o julgamento do Inter e o Grêmio que é o maior interessado já que ficou em segundo no campeonato e foi pisoteado por algo de igual importância fica quieto e se acadela.

Que nojo que tenho .......
2 respostas · ativo 520 semanas atrás
tceh,tu só fala merda aqui
E tu só pode ser um pucha saco de colorado ou ama algum.
Milton,sinceramente,quero que se possível faças meu obituário.A família ,pensamento no grande arquiteto do universo e deste modo,as bênçãos da paz e serenidade lhes protejam.
1 resposta · ativo 520 semanas atrás
Ate porque pelo tamanho do texto da pra familia levar a semana toda pra ler e esuqce de chorrar
Eu acho q o Gremio tinha q entrar de voadora nessa historia de racismo...

O Esportivo foi rebaixado por isso, certo? (Nao lembro mais)

Nos fomos excluidos da CB do ano passado? Ae vem o espertao e diz "Nao foi excluido, mudaram a punicao q a foi perda de 3 pontos" duhhh... Se tivessimos ganho os dois jogos (arena e vila) a pena seria de 7 pontos... sacaram??? soh nao quiseram abrir o precedente de exclusao de campeonatos... imagina se uma merda dessas acontece com algum time q tenha valor para a Globo (o q nao eh o nosso caso)...

Agora o correto seria tirar o numero de pontos ate deixar o coco fora da zona classificatoria... simples assim... mas nao temos forca politica e federativa e obviamente a FGF alem do coloradismo, iria minguar sem pegar a grana dos jogos do bergamotao fifa..

Agora para os q dizem q nao se deve misturar futebol com politica ... Andre Sanchez, Eurico e varios outros q dominam as federacoes dos seus estados mandam abracos e te chamam de pateta :)
1 resposta · ativo 520 semanas atrás
Mesmo quando o STJD diminuiu a pena do Esportivo de nove pra três pontos, não era a intenção deles mitigar a pena, mas sim evitar o precedente. Tanto que eles devolveram pontos pro Passo Fundo, em uma decisão a respeito de escalação irregular, outro tema onde a opinião do tribunal depende exclusivamente da cor da camisa do time em questão.

O que aconteceu com o Petros, por exemplo, foi o fim da várzea.
O verdadeiro racismo que exite no Brasil é contra o Grêmio, somos odiados e mal tratados por toda a imprensa nacional e a imprensa gaúcha então nem se fala, seu ódio contra o Grêmio é repugnante, se o inter não for excluído da competição só fica provado uma coisa, o verdadeiro racismo é contra o Grêmio!!!!
Relação entre a campanha na primeira fase no ruralito e no Brasileiro do mesmo ano.

--Ano-------Gaúcho--------Brasileiro
(2015)--30/45--66%--??/114--??%(?º)
(2014)--29/45--64%--61/114--53%(7º)
(2013)--26/45--57%--65/114--57%(2º)
(2012)--31/45--68%--71/114--62%(3º)
(2011)--30/45--66%--48/114--42%(12º)
(2010)--38/45--84%--63/114--55%(4º)
(2009)--27/45--60%--55/114--48%(8º)
(2008)--36/42--85%--72/114--63%(2º)
(2007)--40/48--83%--58/114--50%(6º)
(2006)--37/48--77%--67/114--58%(3º)

Ranking dos melhores anos:

Gauchão(%)-Brasileiro(%)-Posição
--(2008)--------(2008)--------(2008e)
--(2010)--------(2012)--------(2013e)
--(2007)--------(2006)--------(2006e)
--(2006)--------(2013)--------(2012e)
--(2012)--------(2010)--------(2010)
--(2011e)------(2014)--------(2007)
--(2015e)------(2007)--------(2014)
--(2014)--------(2009)--------(2009)
--(2009)--------(2011)--------(2011)
--(2013)----
"Tem colorado ligando pra direção da Pampa e reclamando do plantão...Para eles eu digo uma coisa: Vai botar o pijama e dormir, isso aqui é programa pra gremista!" - Antônio Augusto.
Quanto ao racismo no Remendo: Além de caírem todas as mascaras isentas, sumiram com o tal Potter. Desacreditaram e achincalharam o cidadão que relatou o que viu. Detalhe: Potter é colorado doente.
Lendo as recentes reportagens sobre os excelentíssimos deputados gaúchos Danrlei e Jardel, somadas aos antecedentes da dupla, reforço meu pensamento que unir política à paixão clubística é uma m... mesmo.
É muito dinheiro, é muito poder. Não existe amor adolescente que sobreviva.
Invejo os torcedores mais antigos que assistiram jogadores com salários mixurucas que botavam o pé em todas. Imagina: nego ganhava o equivalente a 3 ou 5 contos por mês com contrato de um ano e arriscava quebrar o pé em uma dividida. Hoje isso é raro.

Acompanho o blog desde muito antes do Arigatô virar vice. O que ele viu e vê diariamente, com certeza faria qualquer torcedor questionar sua paixão clubística. Talvez um dia, quando ele sair da diretoria, ele possa nos relatar como essa relação dele com o Grêmio ficou.

Sempre quando discuto futebol, salários de jogadores, rios de dinheiro em patrocínios, sonegações fiscais monstruosas, batalhas campais entre torcidas organizadas, etc. Eu argumento que há situações que eu costumo ignorar nas horas que perco acompanhando ou discutindo sobre o Grêmio. Faço isso por egoísmo. Eu gosto de ser gremista. A sensação de torcer como uma criança, cuja lógica é desprendida de malícia é incrível. Se o jogador "A" não joga nada, substituam pelo "B". Não fico me perguntando se ele pertence a empresário X ou Y, ou se devolve parte do salário dele para algum sanguessuga. É simples: "A" por "B" e deu. Talvez se eu soubesse de algumas coisas, não conseguiria me desprender.
1 resposta · ativo 520 semanas atrás
Quando li "21 assessores" me deu vontade de vomitar.
1. Lembram do caso Paulão, no Grenal da Arena? O Grêmio foi condenado pelo TJD gaúcho a pagar 80 mil Reais. O autor do insulto não foi identificado e o ato não foi filmado, mas o depoimento de jornalistas foi o suficiente para condenar o clube.
Fizeram um auê, queriam que a Arena apresentasse imagens pra polícia, o MP se meteu... foi uma festa.
É o que eu digo: a indignação deles é seletiva.
Soprador de apito!!!! era outro termo usado pelo nosso Antônio Augusto!!!! relógio que atrasa, não adianta!!! era outra frase!!!!!

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