19 de abril de 2015

O "grande negócio" perde o véu

O relatório que acompanhou o balanço de 2014 do SCI foi integralmente divulgado na internet (vejam aqui). Caiu o véu. Afora o déficit de R$ 65 milhões, disfarçado de déficit de R$ 49 milhões, o documento contém dados interessantes sobre um aspecto pouco divulgado do "negócio Brio": o custo da reforma para o antigo proprietário do estádio, o SCI. Por que escrevemos "antigo proprietário"? Porque, usando-se a lógica utilizada por "isentos" para falar sobre a Arena do Grêmio, o estádio não é deles, conforme mostramos de maneira irrefutável, no post de 21/01/2014, "Mentira: braços longos e pernas curtas".

Mas, voltemos ao balanço. Numa sequência de notas explicativas, torna-se claro que o propalado e decantado "grande negócio" foi grande, sim, mas em CUSTO. O referenciado negociador e seus pares ocultaram o quanto puderam as reais condições da parceria. Finalmente elas vêm a público, com a divulgação do relatório.

As imagens abaixo são partes do documento referido. Ouçam o tilintar dos custos assumidos e pagos na Padre Cacique entrando como cash integral nos cofres da Andrade Gutierrez.
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Parcelas de custos 1 e 2 - R$ 14.481.354 e R$ 26.000.000 (página 42)

Como ocorreu: o primeiro valor foi pago à Construtora Tedesco, até 2011, por conta da demolição de parte do estádio. A AG não ressarciu este custo. O segundo valor, de R$ 26 milhões (oriundo da venda dos Eucaliptos), foi pago à SPE Holding Beira Rio S.A. (também conhecida como "Brio" e pertencente 100% à AG) em março de 2012, quando da assinatura do contrato de reforma.



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Parcelas de custos 3 e 4 - R$ 8.400.000 e R$ 18.036.639 (página 43)

Como ocorreu: Quando ainda imaginava realizar a reforma com recursos próprios, o SCI colocou à venda camarotes, ao preço aproximado de R$ 1 milhão a unidade. Conseguiu comercializar 25 suítes/camarotes, num montante de R$ 26.436.639. Quando da assinatura do contrato, pagou à Andrade Gutierrez os R$ 8,4 milhões já arrecadados, em 18 parcelas mensais de R$ 466.666,67. Os títulos de cobrança do saldo a receber dos adquirentes das suítes/camarotes (R$ 18.036.639) foram entregues à Brio/AG, que embolsou integralmente os valores. No relatório, o valor aparece como de "atividade descontinuada" (página 60) e "realização de aporte suíte" (página 25).




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Resumo do custo da reforma: R$ 66.917.993

Acreditem: afora abrir mão de partes consideráveis das receitas geradas pelo estádio (explicitadas no item 3 do tópico "Mais detalhes do negócio" do post "Mentira: braços longos e pernas curtas"), o decantado "grande negócio", conduzido por "grande negociador", custou ao SCI, em dinheiro sonante, a importância de R$ 67 milhões, a preços da época. O triplo do que o Grêmio pagou até agora à Arena Porto Alegrense para os seus sócios ingressarem em seu novo estádio.
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Uma observação sobre o déficit

Houve a divulgação de déficit de R$ 49 milhões. Porém, o relatório mostra também o valor de R$ 65,9 milhões. Usaram a roupagem de "Resultado abrangente" para o valor maior. É uma maquiagem feita por contabilistas criativos, os quais deixaram o valor de R$ 18 milhões dormindo em uma conta para ser revertido no futuro. Porém, esqueceram de alterar algumas páginas do relatório, onde ele aparecia considerado no resultado. Com isso, credores sumiram do balanço, nas dobras da tal abrangência (vejam imagens abaixo, obtidas nas páginas 25 e 53 do relatório).