12 de janeiro de 2013

Daniel Matador: Hienas, abutres e chacais

Caros

É complicado. É muito complicado. É complicado demais. Atender aos anseios de uma massa eclética como a torcida tricolor é por demais trabalhoso, para não dizer impossível. Os mesmos que ontem bradavam a plenos pulmões “FICA POFEXÔ” são aqueles que hoje gritam “FORA POFEXÔ”. Os que assolavam as redes sociais citando sem parar que o Grêmio deveria investir em jovens talentos desconhecidos, que são baratos e podem estourar, rendendo dinheiro ao clube, são os mesmos que hoje criticam a contratação dos jovens trazidos do interior gaúcho, oriundos do Juventude. E essa mesma galera depois cobra coerência dos políticos. Vai entender.

Em um dos contos da coletânea À Sombra das Chuteiras Imortais, Nelson Rodrigues cita em determinado momento que era mais fácil encontrar uma girafa nas redações de jornais do que um otimista. Referia-se aos que ele denominava, entre aspas, de “entendidos”, os quais criticavam a seleção brasileira de 1970 antes do início da Copa do Mundo do México, onde o Brasil sagrar-se-ia tricampeão mundial. O chamado “complexo de vira-lata”, termo difundido pelo próprio Nelson, ainda permanecia vivo na população brasileira, mesmo após dois títulos mundiais. Uma gigantesca parte da torcida e da imprensa batia na tecla de que a seleção brasileira era um time de pernas-de-pau, anos-luz atrás das seleções europeias. A campanha de pessimismo deflagrada dizia que o time seria batido facilmente por qualquer das seleções estrangeiras. Estes mesmos profetas do caos tiveram de colocar o rabo entre as pernas após a conquista do tri.

Em dado ponto, Rodrigues cita magistralmente que “as hienas, os abutres, os chacais uivavam: - Não passa das quartas-de final!... e os entendidos recomendavam: - Humildade, humildade! Como se o brasileiro fosse um pobre diabo de pai e mãe.” Pois é desta mesma forma que enxergo hoje grande parte da torcida. Nem cito a imprensa, pois este já é praticamente o papel principal deles. Mas a torcida, a qual deveria estar unida e tendo pensamento positivo para mover o time para a frente, principalmente diante de uma competição grandiosa como a Libertadores da América, comporta-se como as hienas, abutres e chacais referidos por Nelson Rodrigues.

Este é um comportamento que parei de tentar entender. A felicidade suprema do pessimista acontece quando o próprio clube perde! Quando isto ocorre, o agourento regozija-se de prazer. Neste momento ele poderá mostrar a todos que estava certo. Que ele sempre teve razão. Que ele sim entende de futebol, e não estes que estão aí comandando o clube. Mesmo quando suas previsões catastróficas dão errado, ou seja, quando o clube é campeão, o vidente das tragédias acaba tirando prazer do negativismo. Em seu âmago, mesmo estando contente pela conquista, sua maior satisfação é poder dizer que ganharam "na sorte". Se tivessem seguido seus conselhos, aí sim a coisa teria andado a contento. E não termina a explanação sem antes prever, com dedo em riste, que tudo tende a desandar no ano que vem. Podem cobrar dele depois. Ele sabe das coisas.

Não é preciso analisar muito para perceber que há uma semelhança muito grande entre este tipo de elemento e as hienas, abutres e chacais destacados por mestre Nelson. Todos eles são seres menores dentro do reino animal, desprezados pelos grandes leões e tigres. Dependem da desgraça alheia para que possam alimentar-se. Por conta disso, não têm capacidade de apreciar um bom filé ou um suculento costelão. Gostam mesmo é de uma carniça.

Saudações Imortais