9 de janeiro de 2013

Um exemplo para os chorões


Dias atrás, o comentário de um leitor aqui no blog chamou minha atenção. Identificando-se como cearense e fanático pelo Grêmio, despertou em mim uma grande curiosidade. Pensei: quem será esse torcedor que vive tão longe? Quais seus laços com o RS e com o Grêmio? Não tive dúvidas e fui atrás do vivente. Descobri que Tiago Sousa Lopes, um administrador de vinte anos, nasceu na cidade de Camocim (Ceará) , uma paradisíaca cidade praiana e vive atualmente na cidade de Sobral. Muito inteligente, educado e bem articulado ficou muito feliz em poder falar ao blog.
A seguir, a entrevista do fanático torcedor gremista que nunca pisou em solo gaúcho.

Com que idade começou a gostar de futebol?
-Acredito que com uns oito anos. Gostava de JOGAR bola, mas sempre fui um perna-de-pau. Então, comecei a me interessar pelo "futebol da televisão". Era legal ver gols, a torcida comemorando e ainda conseguia aprender um pouco das regras do jogo para ensinar aos meus amigos quando iamos jogar.

Quando você era criança, para qual time torcia?
-Sempre torci para o Grêmio. Mas até certa idade era só por influência de meu pai. Lembro-me que comemorei a Copa do Brasil de 2001, mas sem aquela “gana”. A cada ano que passava, eu ficava mais apaixonado pelo Grêmio. Sofri com o rebaixamento, chorei com a volta a 1ª divisão, comemorei o Estadual de 2006, fiquei tristre com o resultado da LA'07 (essa nomenclatura para a Libertadores da América eu aprendi nos blogs gremistas). Enfim, sempre fui gremista.

Você tem amigos ou parentes no Rio Grande do Sul?
-Não.

Já teve contato com a cultura gaúcha?
-Nunca fui ao Rio Grande do Sul, mas conheço alguns gaúchos. Acesso os sites de esportes e os blogs do Grêmio. De certo modo estou iniciado em 10% da cultura gaúcha.

Como você conheceu o Grêmio?
-Meu pai era gremista. Ele se tornou gremista aos 13 anos, quando assistiu Renato destroçar o Hamburgo em Tóquio. Quando nasci, 11 anos depois, ele passou de forma tímida a paixão pelo Grêmio. Digo "de forma tímida" porque ele nunca foi fanático por futebol ou qualquer outro jogo. Portanto, conheci o Grêmio através do meu pai.

Torcedor fanático, Tiago sabe tudo sobre o Grêmio.
Você é torcedor fanático do Grêmio. Esse fato é incomum para alguém que vive a uma distância de mais de 3.200 quilômetros de Porto Alegre e sem laços afetivos com o RS. Como foi que começou essa sua paixão pelo Imortal Tricolor?
-Meu pai deu o pontapé inicial me incentivando a torcer pelo Grêmio. O resto veio de mim mesmo. Comecei a perceber que o Grêmio compartilhava os mesmos ideais que eu. O Imortal tem um azul lindo e eu sou fascinado por azul. O próprio nome Imortal me faz lembrar das minhas características de sempre lutar até o fim. Enfim, a paixão pelo Grêmio começou simples mas se tornou gigantesca. Até meu e mail  como podes ver, tem o nome do Grêmio no meio.

De que maneira você acompanha o dia-a-dia do clube?
-Acesso diariamente uns seis blogs do RS. Entro em pelos menos três jornais virtuais de esportes para saber das notícias do Grêmio. E escuto os jogos do Grêmio pela Rádio Gaúcha na internet.

Você consegue assistir a todos os jogos pela televisão?
-No Ceará, como no RS, existe a mídia regional que noticia os clubes locais (Ceará e Fortaleza) e o restante do conteúdo esportivo vem do "eixo". Como não tenho pay-per-view, assisto em média a oito jogos do Grêmio por ano via TV. Ou seja, quando o Imortal enfrenta times do Rio-SP nos horários de domingo à tarde ou quarta à noite. Isso é muito ruim! Então, sempre que posso, escuto o jogo pela internet e assisto os melhores momentos de TODOS os jogos no globo.com

Qual jogador do Grêmio foi seu maior ídolo até hoje?
-Conheço a maioria dos ídolos gremistas. Desde Lara, que está no hino do clube, passando por Pavilhão, Milton Kuelle, Baltazar, Tarciso, De Leon, Baidek, Paulo Nunes, Dinho, Arce, Danrlei, etc. Mas, sempre que assisto os vídeos baixados via youtube, fico impressionado com Renato e Jardel. É muito show ver o Renato dar um balão e o Cezar entrar de cabeça e fazer o gol. É espetacular ver aquela vitória por 5 a 0 sobre o Palmeiras. Dos que vi jogar e tinha consciência para entender um pouco de futebol, me contento com Gallato, Anderson e Tcheco.

Por quê?
-Gallato, porque calou meu choro ao defender o pênalti na Batalha dos Aflitos. Anderson, porque fez eu sair para o meio da rua gritando que o Grêmio era Imortal. Tcheco, porque sempre foi raçudo e quase nos deu uma Libertadores.  

O que pensam seus amigos e familiares sobre o seu fanatismo por um clube que está na outra ponta do Brasil?
-Muitos amigos meus me chamam de doido. Falam assim: "Como é que um cara desse vai torcer para um time lá do Rio Grande do Sul?" Meus pais reclamam pelo excesso que tenho. O quarto é azul, tem pôsteres, toalha, camisa, rede, tudo do Grêmio. Enfim, no Ceará é raro um gremista. Mas, se tem uma coisa que posso lhes afirmar com muita certeza, é que é muito mais raro um côcolorado no Ceará.


Torcedor do Imortal, Tiago sonha assistir um jogo na Arena.

Alguém compartilha do seu gremismo aí no Ceará?
-Conheço poucos gremistas, mas todos que conheço são conhecedores do clube. Sabem da escalação, dos pendurados, dos contundidos. Enfim, gremistas no Ceará são poucos, mas todos genuinamente torcedores.

Como um espectador distante, o que você pensa sobre as acirradas disputas políticas dentro do clube?
-Gosto de política, entendo um pouco de administração. Mas não conheço a política interna no Grêmio. Pelo pouco que acompanho sobre o assunto, vai ser difícil o presidente Fábio Koff unir os intermináveis grupos políticos do Grêmio.

Qual foi sua maior emoção com o Grêmio?
-Definitivamente, 2005, a Batalha dos Aflitos. Também teve a final da Libertadores de 2007. Fiquei muito triste pelo resultado. Como torcedor "novo", careço de uma emoção mais prazerosa como um Brasileirão, Libertadores ou Mundial.

Se você pudesse falar diretamente com o diretor de marketing do clube, quais seriam suas sugestões?
-Que tal escolinhas do Grêmio em todas as cidades com população acima de 200.000 habitantes? Você garimpava talentos, fazia um favor para a cidade e ainda ganhava torcedores nestes locais. Acho que com uma boa estratégia de Marketing e incentivos fiscais, a ideia se pagava.

Você sabe que o nosso clube é conhecido por ter características de força, raça e combate. Como um cearense tranquilo e desestressado e que frequenta praias magníficas convive admirando essas características culturalmente tão diferentes?
-Culturalmente, os cearenses são ecléticos. A única coisa em comum entre todos nós é o bom-humor. Ou seja, há cearenses, como eu, que prezam pela raça e pelo combate.

Quando grandes clubes do centro do País acusam o Grêmio de usar demasiadamente a força nos jogos , o que passa pela sua mente?
-Que eles usam, em vez da força, a arbritagem, a CBF, a mídia e ainda perdem para a gente no Velho Casarão. E perderão na Arena.

Se o Presidente Fábio Koff o convidasse para um chimarrão, o que você diria a ele?
-Em bom cearense: "Na hora, dr." E acrescentaria: Presidente, peço-te que traga de volta aquele Grêmio que era odiado porque ganhava tudo, porque era copeiro. Os torcedores de minha idade precisam de títulos, pois nós já conhecemos o inferno, agora queremos o céu.

Você conhece outros torcedores que como você, nutrem uma paixão extremada por um clube tão distante sem ter entrado nenhuma vez no seu estádio?
-Sim, vários. A maioria de meus amigos são fanáticos por seus times e nunca foram vê-los jogar em seu estádio.

Qual o seu grande sonho com o Imortal Tricolor?
-O meu grande sonho com o Grêmio é poder ir assistir uma final de campeonato no Olímpico, agora na Arena.
Deixe seu recado para todos os torcedores do Grêmio espalhados pelo mundo.
-Queria dizer a todos os gremistas do mundo que, como o Grêmio é conhecido por Imortal Tricolor, nós torcedores devemos demonstrar esta imortalidade através da fidelidade a nosso time, sempre torcendo mesmo quando os títulos não vierem. Pois um dia, como aos cinquenta minutos do segundo tempo, nós iremos ser campeões novamente. Saudações Imortais.


                                       Camocim, um paraíso em terras cearenses.