“Eu vi o anjo
no mármore e esculpi até libertá-lo.”
Michelangelo
Estive na apresentação de Renato na Arena e escrevi aqui no blog o sentimento que tive naquele dia. O sentimento de que a magia estava de volta ao Grêmio. E falei isso não apenas com o coração de torcedor, mas usando também meu lado racional. Já havia visto treinos comandados por ele em sua outra passagem pelo clube, onde pude constatar que seu método de trabalho não é baseado somente na distribuição de coletes e realização de rachões. Nenhum time teria conseguido fazer aquela campanha naquele ano apenas baseando-se nisso. Com o advento da Arena, o comando de Koff e o engajamento da torcida, tive convicção de que havia a conjugação de fatores necessária para o sucesso do tricolor. Não era apenas um pensamento mágico, como alguns incautos erroneamente rotularam na época. Os mesmos que hoje somem com o rabo entre as pernas ou ficam pianinhos a cada novo feito deste grupo. Será sempre assim: muitos falam sobre futebol, poucos estudam sobre ele, menos ainda o entendem em sua verdadeira essência.
Quem não matou as aulas de história no colégio sabe quem foi Michelangelo Buonarroti. Um dos maiores artistas da história, exímio pintor, escultor, arquiteto e poeta, era considerado o maior gênio de sua época. Ele possuía uma forma própria de realizar suas esculturas. Dizia o mestre: “Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a veem.” Em suma, enquanto outros viam apenas um tosco bloco de mármore, Michelangelo já vislumbrava o que poderia ser feito com ele. Munido do maço e do cinzel, criava obras de arte desbastando a pedra bruta. Uma qualidade que poucos possuem.
A frase atribuída a Michelangelo, que encabeça este post, é emblemática e pode resumir o que Renato tem feito com os jogadores que encontrou no Grêmio. Da mesma forma como fez com o grupo de 2010, tratou de valorizar a equipe desde o início, mesmo aqueles atletas pouco valorizados. Apenas os que realmente não poderiam ser aproveitados foram descartados, podendo ser caracterizados como os pedaços de mármores que precisam ser desbastados. Os que ficaram foram esculpidos e todos os estigmas que pousavam sobre o grupo começaram a cair, um a um. Dida pegou pênalti. Barcos voltou a marcar gols. Kléber voltou a mostrar as qualidades que o caracterizaram como o Gladiador. Ramiro deixou de ser refugo do Juventude para tornar-se um jovem destaque. Até Pará, o titular com menos recursos técnicos do grupo, acabou marcando um emblemático gol de falta, determinando a quarta vitória seguida da equipe.
Isto não é apenas sorte. Não é apenas pensamento mágico. É a conjunção do trabalho feito durante a semana nos treinamentos, a forma como o grupo está sendo conduzido pelo novo comandante e a aura que começa a formar-se entre o tricolor e sua torcida. É a união de magia, arte e técnica. Renato já mostrou que mesmo alguns cabeças de bagre podem ser úteis quando bem trabalhados. Mesmo toscos blocos de pedra podem tornar-se anjos. Nem que para isso seja necessário tomarem pancadas desferidas por maço e cinzel.
Saudações Imortais