10 de agosto de 2013

Dois fatores para o fracasso

Em Janeiro e Fevereiro, sob aplausos e euforia da torcida desceram em Porto Alegre jogadores consagrados e promissores. Barcos, Vargas, Chris, Dida, William José e Welliton foram os mais vistosos. Agora em Agosto, Chris, W. José e Welliton já forma embora. Dida e Vargas são olhados com desconfiança e Barcos está em pleno processo de execração pública. Quais seriam as causas deste fracasso?
Pois vou dar a minha opinião.

Razões Técnicas

Quem lê este blog sabe que desde a época da euforia eu tenho escrito que falta um meia avançado. Nem Elano e muito menos Zé Roberto podem exercer esta função. Elano até poderia se tivesse preparo físico. Não tem. E não terá nunca mais. Zé Roberto seria um extraordinário segundo volante. É um armador comum e previsível.
Luxemburgo, por razões que só ele sabe, pensou mal a montagem do time. O Grêmio tem feito gols, quando os faz, em jogadas individuais ou em bolas paradas. Maxi Rodrigues veio para preencher esta lacuna. Mas, parece, não está ainda maduro o suficiente para entrar e jogar com naturalidade.
Mas seria só esta a causa do fracasso? Afinal, muito time já ganhou títulos com sérias deficiências.
Pois eu afirmo que não é só isto.
A inapetência do Pofexô para o trabalho e sua antes insuspeitada insegurança contribuíram também, mas a meu ver os maiores motivos não são os técnicos.
Explico.

Alma vencedora

Muitos anos atrás, eu ainda era um aluno de engenharia e o Grêmio perdia uma longa série de ruralitos. Foi montado um time forte que também não conseguiu o título. Daquele time eu lembro o comentário do Ruy Osterman em jogo que o Grêmio perdeu. "Quanto mais o time se desmanchava em campo mais Ortiz corria e lutava." Ortiz era um ponta argentino baixinho que veio, jogou e foi embora triturado por ser baixinho. Acabou titular da Argentina campeão mundial de 1978.
Depois o Grêmio montou o time de 1977. Oberdan, Tadeu Ricci, Ladinho e outros, antes de serem jogadores eram lideranças. Patrolaram quem apareceu pela frente sem piedade.
No time de 1981 dá para buscar De León, Baideck e China que mandavam no jogo.
Em 1995 pode-se escolher mais à vontade ainda: Danrley, Adilson, Dinho, Rivarola, Roger e Goiano.
O que todos estes tinham em comum? Liderança. Gana de ganhar. Irresignação com a derrota.
E tinham tão fortes estes atributos que contagiavam o resto do time, especialmente os craques, que são geralmente mais indolentes.
Agora vocês olhem para o gramado da Arena. Repassem na cabeça os dois últimos jogos. No GRE-nada, um anão de fala fina apitou o jogo todo sem levar um mísero safanão. O juiz fez o que fez sob o olhar complacente e quase aborrecido do time todo. Contra o Coritiba, onde estava o jogador para pegar a bola embaixo do braço após aquele gol fortuito e dizer para todos que havia tempo de sobra até para golear? Quem foi que diante do quinto passe errado em sequência falou para todos se acalmarem senão tudo seria mais difícil?
Ninguém!
Este é o primeiro e principal problema do Grêmio: faltam líderes. Faltam homens com espírito vencedor. Daqueles que, como Ortiz, sejam capazes de crescer na adversidade. Que sejam valentes o suficiente para, assim como fazia Dinho, chegar junto e pesado no zagueiro que havia atropelado o Paulo Nunes, mostrando que ninguém tiraria onda dos seus parceiros livremente.
Esta é uma característica do Grêmio vencedor que foi abandonada. Nos anos vitoriosos primeiro se olhava a alma e a personalidade do jogador pretendido. Se estas fossem de vencedores, aí a parte técnica era analisada. Nunca se contratou alguém por ser craque. Muito menos por ser bonzinho ou para formar grupo. Se contratava gente que após perder um jogo ficava 3 dias sem dormir de raiva.
Desconfio que muitos que estão aí até tiram cochilo nos intervalos dos jogos.
O único que mostra certa liderança e irresignação é Barcos. Mas este é centro-avante. Está lá mais para apanhar do que para por ordem na casa.

Moedor de carne

Mas então é só isto? Claro que não.
É só ler os 5 primeiros comentários do blog após cada post e fica evidente o papel do torcedor na derrocada do time.
E atenção apressadinho, não estou falando em apoio incondicional. Em ausência de crítica.
Estou falando de terremoto, de terra arrasada, de falta de inteligência.
A cada derrota ninguém presta. A cada derrota o time todo deve ser trocado. A cada derrota o craque de ontem transforma-se no pereba de hoje.
Então não se pode ou não se deve criticar? Claro que não é isto. Viu você que passa voando pelo texto para chegar logo nos comentários e então derramar tua dor legítima e tua tese, geralmente furada.
Antes de mais nada, acreditem ou não, jogador é um ser humano. E se for um ser humano comum, como descrevi acima, tem muito mais defeitos e sensibilidade do que os poucos com DNA vencedor e imune ao meio em que vivem.
E, sim, jogador lê jornais, vê televisão, procura os blogs. Quanto mais não seja para tentar alimentar o ego com elogios a seu respeito.
Se, ao contrário, só encontrar desaforos, críticas desproporcionais e ameaças, a chance de sucumbir é quase total.
Há muito tempo a torcida gremista tem sido um moedor de atletas pelo seu comportamento irracional e desmedidamente agressivo. Até quando? Eu não sei. Apenas sei que este comportamento é auto-destrutivo.
Quarta-feira o William José fez um belo gol no Corinthians. Um gol que, estivesse ele ainda no Grêmio, certamente erraria. Pois é.
Aproveitem bem o fim de semana.