“Ele não é humano. É um pedaço de aço.” (Ivan Drago, em Rocky IV)
Caros
Partidas como Grêmio x Fluminense pela Libertadores da América só me dão incomodação. A mulher reclama porque eu berro na hora do gol (e foram 3!), o Lebon e o Murphy (meus cachorros) ficam loucos com o foguetório (na minha região, bairro nobre, a maioria esmagadora é gremista) e eu quase acabo com meu estoque de amendoim japonês dourado enquanto assisto o jogo, só no nervosismo. Mas quer saber? AZIRAS!!!!! Que tenha incomodação assim sempre!
A noite passada mostrou uma diferença gigantesca em relação ao jogo anterior. Um dos primeiros pontos notados foi a postura defensiva muito mais sólida, desde o início do jogo. Além das duas linhas de quatro, Barcos voltava seguidamente para auxiliar na marcação, deixando apenas Vargas para puxar algum eventual contra-ataque. Como já havia citado anteriormente, gosto muito de Grohe, mas a presença de Dida impõe um respeito no adversário como raros conseguem. As tentativas do Fluminense esbarravam na barreira montada e na aplicação diferenciada de alguns jogadores. Pará tomou uma térmica de café puro antes do jogo. Werley, que não havia feito grandes jornadas no ruralito, retornou bem. Cris ganhou praticamente todas as disputas pelo alto, jogando também várias bolas pro mato quando a coisa apertava. E André Santos mostrou o que pode fazer na lateral esquerda, inclusive marcando gol, uma de suas características.
Se a defesa estava assim postada, o meio de campo era quase uma extensão dela. Souza e Fernando chegavam em todas, sendo que este último ganhou várias no mano-a-mano, propiciando jogadas de contra-ataque. Elano não aventurou-se muito à frente, atuando quase como terceiro homem de volância, deixando as subidas para Zé Roberto. E aqui temos um caso peculiar. Se não fosse quem fosse, certamente os comentaristas esportivos perguntariam quem era este garoto recém egresso das categorias de base. E diriam que ele corre o tempo todo porque ainda é guri. Faculdades de Medicina devem estar na fila para estudar sua genética para fins de pesquisa científica.
Na frente, Vargas teve no segundo tempo lampejos do entrosamento que se espera com o restante do time. Mesmo que tenha pecado em alguns lances, procurou ser mais vertical e ainda anotou um gol com a característica de quem sabe jogar bola. Não soltou aquele bago para o espaço, não jogou em cima do goleiro nem meteu aquela bolinha fraca pra fora. Deu o chute que o atacante tem que dar nessa posição, com a quina do ossinho do pé, com a força e a direção exatas para a bola morrer no fundo da rede.
E, por último, um caso à parte. Depois de penarmos durante muitos anos com jogadores esforçados na posição, finalmente temos no ataque do Grêmio um centroavante. Daqueles cuja carteira de trabalho está assinada desta maneira. O zagueiro trombava, ele trombava também e ficava em pé. O volante chegava junto, ele não saía da jogada e ficava em pé. O goleiro saía estapeando a bola, ele ia junto de cabeça. E ficava em pé. Não adiantava bater, não adiantava forçar, não adiantava segurar, não adiantava puxar. Barcos suportava tudo e ficava em pé. Alguns sites reproduziram o lance após o primeiro gol, em que alguns jogadores do Fluminense aparecem olhando incrédulos, mãos na cintura, enquanto Barcos comemora. Seus olhares diziam tudo. Ele era um pedaço de aço.
Em 1976 Silvester Stallone protagonizou Rocky, Um Lutador. O filme viria a ganhar no ano seguinte o Oscar de melhor filme, um feito em tratando-se do tema. Suas sequências são boa diversão, principalmente para quem curte boxe e jornadas de superação, apesar de várias forçadas de barra. Em 1985 foi lançado o quarto filme da série, em que Rocky tem de ir até Moscou para enfrentar Ivan Drago, o campeão soviético de boxe interpretado por Dolph Lundgren. Quando estão frente a frente no ringue, ouvindo a instrução do juiz, chega a dar pena de Rocky, pois Drago é muito maior do que ele. Sem contar que a torcida é toda contra. Durante a luta, Drago ataca de todas as maneiras, mas a postura defensiva de Rocky chega a ser irritante. Drago tenta derrubá-lo várias vezes, mas em todas ele fica em pé ou levanta após cair. Durante um intervalo, sentado no corner, Drago desabafa: “Ele não é humano. É um pedaço de aço.” E então Rocky começa a dar uma tunda de laço linda de ver. Drago apanha mais do que vagabundo em incursão do Bope. Até beijar a lona.
Durante a semana uma das manchetes mais alardeadas pela imprensa imparcial foi o beijo que Fred conseguiu de uma motoqueira no trânsito. Depois do jogo, Souza ressaltou: “Quem beijou a lona foi o Flu.” Os jogadores gremistas, tal qual Rocky, não caíam por nada. Barcos trombava e ficava em pé, dava pescoções nos zagueiros e ia pra luta. E ao final o que se viu lembrou o filme. Um time que achava que ganharia tomou uma camaçada de pau. Lindo de ver.
Saudações Imortais